“Eu nem sei o que vou falar. O Giovani era uma criança ativa, estava sempre brincando, sempre sorrindo. Era um anjo para nós. Só trazia alegria para a família e para os amigos. A Tati foi uma esposa maravilhosa, a gente manteve uma amizade boa. Espero que seja descoberta bem a verdade, que seja feita a justiça, que o culpado seja condenado. Não fica nenhum sentimento de raiva, nem nada, só de perda. Perda dela, do Giovani”.
Essas foram as palavras de Fabio Maurício Araújo Hauenstein, pai do menino Giovani, 8 anos, e ex-marido de Tatiana Armanini Hauenstein, 44 anos, mortos violentamente a golpes de faca em uma casa no município de Itaara. Os corpos foram localizados na segunda-feira às margens da Estrada do Perau. No mesmo dia, o autor confesso do crime, Leonardo de Lima Zoconi, apresentou-se para a Brigada Militar (BM) de Barra do Quaraí, onde foi preso e indicou onde os corpos estavam.
Em perfis de Tatiana nas redes sociais, constam muitas postagens diárias de frases e pensamentos positivos, além de fotos dela com o filho Giovani e Leonardo. No próprio perfil do Facebook, a vítima usa o nome Tati Leonardo.
Técnica em enfermagem, Tatiana e o filho moravam em Osório, no Litoral Norte, e haviam se mudado há um ano para Itaara. Ela era uma pessoa de bem com a vida, afirmaram amigos em depoimentos emocionantes à reportagem do Bei. “Carinhosa, dedicada aos filhos, alegre e batalhadora”, descrevem.
Amiga há cerca de 30 anos, Greice Noal Thomas não consegue acreditar no que aconteceu.
– O Gi (Giovani) era um anjo na vida dela. Até o momento, eu não acredito. Parece que eu estou vivendo um pesadelo. Eu não tenho uma lembrança, eu tenho uma vida de lembranças com ela. Ela era como uma irmã. Enquanto eu respirar, vou lembrar deles – lamenta.
Segundo Greice, Tatiana nunca comentou nada sobre Leonardo nem que teria sido agredida. Mas a técnica em enfermagem reclamava do ciúmes do namorado.
– Só espero que a justiça dos homens e, principalmente, a de Deus sejam feitas – desabafa a amiga, chorando.
Os irmãos Eder Avila e Tatiane Rodrigues também conheciam Tatiana há mais de 30 anos. Eles lamentam a perda da amiga e do filho.
– Ela era mãe dedicada, trabalhadora, só entrou nesse relacionamento que deu errado. Uma pessoa positiva, sempre de bem. Uma pessoa que todo mundo gostava de estar junto. Ela tinha um lado meio místico, de querer o bem, as boas energias – conta Avila.
Já Tatiane, conta que as duas se conheceram por que Tatiana era amiga do irmão e que estavam sempre juntos na adolescência.
– Ela sempre foi muito trabalhadora para cuidar dos filhos. Quando ela começou a namorar ele, eles postavam várias coisas no Instagram e no Facebook como se estivessem superbem. Não se via que uma coisa dessas pudesse acontecer. Eu fiquei apavorada. Não entendo até agora – lamenta a amiga.
Luto oficial
Tatiana e Giovani moravam em uma casa simples de madeira, em Itaara. Ela trabalhou, até 2015, no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, em Santa Maria. Mas também atuou como técnica em enfermagem em outros hospitais do município.
O pequeno Giovani tinha Síndrome de Down e estudava na Escola Municipal Euclides Pinto Ribas, de Itaara. As aulas foram suspensas na segunda e ontem, e retornam hoje, com apoio de psicólogos. A prefeitura de Itaara decretou luto oficial de três dias. Além de Giovani, Tatiana deixa um casal de filhos gêmeos, de 22 anos.
Mãe e filho estão sendo velados na capela A do Cemitério Parque Santa Rita. Já o enterro ocorre às 11h30min desta quarta-feira (29).
Autor do crime
Leonardo Zoconi, 22 anos, está preso desde segunda-feira, após se apresentar à Brigada Militar de Barra do Quaraí, na Fronteira Oeste. Na noite do mesmo dia veio para Santa Maria.
A Delegacia de Polícia de Itaara comanda as investigações, com apoio de policiais da 2ª Delegacia e Polícia (2ª DP) de Santa Maria. Segundo o delegado Marcelo Arigony, que responde pelas duas delegacias, as investigações estão em andamento.
– Estamos atrás de imagens de câmeras de segurança que possam ajudar na apuração de como o crime aconteceu. Os policiais também estão organizando a documentação do inquérito na delegacia. A motivação é claramente passional, eles tinham um relacionamento. No depoimento ele mesmo diz isso. Infelizmente, ta além do feminicídio, que já é gravíssimo. Nos temos uma coisa que eu posso classificar como horrorosa, horrenda. A morte de uma criança de oito anos, que não tinha nada a ver com iss. Nós temos um feminicídio, mais um homicídio, e além disso uma subtração de um veículo por que ele foi até Barra do Quaraí com o carro dela – diz Arigony.
Após chegar em Santa Maria, o autor confesso foi levado à Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento, onde foi feito o registro da ocorrência da prisão. Em seguida, foi encaminhado à Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm), onde vai ficar à disposição da Justiça.
A polícia não divulgou informações sobre Zoconi. Ele e Tatiana viviam juntos há três meses. O réu confesso do duplo assassinato trabalha como serrador de madeira.
